35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Faixa 12

Sammy Baloji

Sammy Baloji nasceu em 1978 na cidade de Lubumbashi, República Democrática do Congo. Atualmente, mora e trabalha entre Lubumbashi e Bruxelas, capital da Bélgica. Os deslocamentos entre os dois países são um bom ponto de partida para adentrarmos seu universo artístico. “Desde 2005, Baloji vem explorando a memória e a história da República Democrática do Congo. Seu trabalho é uma pesquisa contínua sobre o patrimônio cultural, arquitetônico e industrial da região de Katanga, bem como um questionamento do impacto da colonização belga.” 

Para esta Bienal, Baloji apresenta uma instalação chamada A floresta art nouveau de Hobé e suas linhas de cor, de 2021; um conjunto de três esculturas em bronze intitulado Copper Negative of Luxury Cloth, Kongo People, Democratic Republic of the Congo, Republic of the Congo or Angola, 17-18th Century, de 2020; e um vídeo, cujo título é Tales of the Copper Cross Garden, Episode 1, de 2017. 

Nesta faixa conheceremos mais a fundo a instalação “A floresta art nouveau de Hobé e suas linhas de cor”. Como diz Marco Baravalle para o catálogo desta Bienal, “Há 130 anos era concluída a obra do Hotel Tassel em Bruxelas, na Bélgica. Assim nascia a art nouveau, estilo que celebrava a modernidade e sua classe dirigente, a burguesia industrial, que acumulara enorme riqueza ao entrelaçar seu destino com o das colônias. Padrões similares, na realidade, foram integrados ao design do Museu Real da África Central, em Tervuren, na Bélgica, para não mencionar a arquitetura e os objetos geralmente feitos com materiais da colônia congolesa: cobre, marfim e madeira. Baloji enfatiza essa conexão entre o estilo floral da art nouveau e a expropriação colonial. Além disso, as cores escolhidas pelo artista foram as mesmas que o escritor e historiador W.E.B. Dubois utilizou para os diagramas mostrados em Exhibit of American Negroes [Exposição de negros americanos] durante a Exposição Universal de 1900, em Paris. Essa escolha, de acordo com Baloji, alude à intenção de ‘confundir a leitura etnográfica que se poderia ter dessas obras ao enfatizar o aspecto moderno dessas práticas antigas’. O arquivo colonial é explorado para romper o monopólio ocidental da modernidade”.

A instalação é uma composição de quatro painéis de madeira de tonalidade clara com sete telas feitas com tinta acrílica. Cada um dos painéis tem um tamanho e um formato diferentes, e estão apoiados numa espécie de tripé de madeira, também de tonalidade clara. Os painéis possuem delicados adornos entalhados na madeira, em estilo art nouveau. Cada um deles possui uma espécie de recorte vazado, onde uma das telas é posicionada. É como se os painéis fossem uma espécie de moldura para as telas, sendo um pouco mais salientes do que elas. Eles  parecem interagir com as telas através das formas esculpidas na madeira que os compõem, às vezes sobrepondo-se sobre as telas. Elas, por sua vez, tem padrões inspirados na tradição têxtil congolesa. 

A primeira composição é feita por um dos painéis, com relevos que simulam uma fachada art nouveau, e três telas. A primeira delas está no centro do painel, num formato horizontal. Ela é feita com linhas pretas sobre um fundo branco, formando diferentes padrões. Há um jogo de perspectiva nestes padrões. Predominam quadrados, um dentro do outro, como se saíssem do fundo e chegassem até nós. 

À direita e à esquerda desta tela estão as outras duas. Elas têm o formato de um retângulo, mas sem ângulos retos, e estão posicionadas na vertical. Ambas são feitas com linhas espessas, pintadas em tons de amarelo ou rosa, sobre um fundo branco. Sobre elas há elementos iconográficos, também feitos pelo traçado das linhas espessas, mas em cores como verde e azul. Eles se parecem com flechas e linhas transversais. 

A segunda composição é feita por duas telas, uma logo abaixo da outra, sobre outro painel. Ambas também são feitas com linhas retas e espessas coloridas de azul, preto, vermelho e amarelo. As diferentes direções das linhas desenham padrões próprios da tradição têxtil congolesa. 

Na terceira, o painel de madeira compõe com uma única grande tela. Arabescos entalhados na madeira do painel invadem a tela. Ela, por sua vez, é repleta de linhas verticais e espessas nas cores preto e branco, intercaladas. Sobre essas linhas há alguns elementos iconográficos no formato de setas ou linhas transversais, todas elas preenchidas de listras em amarelo e preto. 

Na última, dois painéis, cada um com uma tela colorida, formam um díptico. Os painéis possuem entalhes de arabescos na parte superior. Na tela à direita, linhas espessas nas cores preto, vermelho e cinza se sobrepõem, em diferentes direções, formando padrões de losangos, linhas transversais e outros mais subjetivos. Na tela à esquerda, as linhas espessas seguem o mesmo padrão e são coloridas de verde, preto e cinza. Elas criam formas semelhantes às outras telas, mas nunca são exatamente iguais – algo sempre escapa, criando espaços de inovação.