35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Faixa 2

Kidlat Tahimik

“Você já ouviu falar sobre o Igpupiara, o ‘monstro’ mitológico do Brasil, sobre o qual Pedro Magalhães escreveu em 1564?” 

Com essa pergunta, o artista filipino Kidlat Tahimik nos convida à imersão em sua instalação, intitulada Killing us Sotly… with their SPAMS… (Songs, Prayers, Alphabets, Myths, Superheroes…), traduzido livremente como Nos matando suavemente… (com suas músicas… histórias, alfabetos, rezas, mitos… super-heróis…), inspirada na música de Charles Fox e Norman Gimbel

Tahimik nasceu em 1942 na cidade de Baguio, Filipinas, onde vi e até hoje. Além de ser autor de instalações de grande porte, Tahimik também é um renomado cineasta independente. 

Na obra aqui apresentada, Tahimik convoca entidades mitológicas ancestrais para confrontar narrativas coloniais e imperialistas. Ao lado de Igpupiara, termo tupi que significa monstro marinho, o artista também convoca Syokoy, entidade mítica, espécie de homem-sereia, dos povos filipinos. Assim, ele traça uma conexão entre as mitologias de povos indígenas do Brasil e das Filipinas. As figuras de Igpupiara e Syokoy personificam o assassinato de imaginários tribais, um profundo e implacável genocídio cultural que amplifica sua tragédia com o capitalismo ecocida racial, como menciona Carles Guerra para o catálogo desta Bienal. “Esse é apenas um capítulo da viagem de circunavegação do explorador Fernão de Magalhães, na qual a invasão abre espaço para a necropolítica que se estende para muito além dos seres humanos”. 

A instalação monumental de Kidlat tem aproximadamente 300 metros quadrados e em alguns pontos chega a sete metros de altura. A instalação é, em sua maior parte, feita em madeira, mas também conta com esculturas em pedra, e todos os elementos apresentados têm tamanho semelhante ao real. Ao centro está uma espécie de aldeia circular, com um espaço no meio. Este espaço é cercado por moradias indígenas. Em volta da aldeia estão grossos troncos de árvore, e sobre ela paira um helicóptero. A respeito dessa parte da instalação, o artista diz o seguinte: “Vista de Helicópteros Deus-Ex-Machina: primitivos protegidos por uma Fortaleza Verde. Está escrito nos rostos dos índios – sua harmonia Kultur com seus dosséis verdes. Enquanto observam os helicópteros acima, as tribos isoladas da Amazônia sentem intuitivamente que o alto chug-a-chug-chug das hélices do helicóptero está predizendo a chegada de motosserras ensurdecedoras.”

Em volta dessa cena central, as ameaças vêm de todos os lados. Um cavalo de tróia; uma enorme caravela, que tem na sua ponta uma escultura de um barco militar com soldados usando capacetes de metal e armados com motosserras; e até um submarino.