35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Faixa 9

Elizabeth Cattlet

Olá! Sou Renan Quinalha, paulistano, advogado em direitos humanos e cientista social. Trabalho como professor de Direito na Universidade Federal de São Paulo, onde também coordeno o Núcleo TransUnifesp. Como homem gay, tenho engajamento no ativismo LGBTQIA+ e já publiquei alguns livros sobre a temática da diversidade sexual e de gênero. Desde junho, sou editor da coluna Livros e Livres da Revista 451. Recentemente, fui nomeado presidente do Grupo de Trabalho de Reparação Histórica à População LGBTQIA+ do Ministério de Direitos Humanos e Cidadania do Brasil. 

Vou te acompanhar aqui nas próximas quatro faixas.

Chegamos às obras de Elizabeth Catlett, artista que se apresentava da seguinte maneira: “Sou negra, mulher, escultora e gravurista. Também sou casada, mãe de três filhos e avó de cinco garotinhas (agora sete meninas e um menino). Todos esses estados-de-ser influenciaram meu trabalho e os tornaram isso que você vê hoje.”

Nascida em 1915 e falecida em 2012, Catlett viu seus 96 anos completarem um ciclo de vida marcado por sua notável expressão artística. Sua produção se caracteriza pela representação visual altamente carregada de uma postura política crítica, dando forma a imagens de mulheres envolvidas em trabalhos árduos, bem como outros agentes que desafiaram o racismo e a violência sofrida pelas comunidades afro-americanas e indígenas. 

Sua trajetória como pintora e escultora estadunidense foi moldada por obstáculos, incluindo a exclusão da Universidade Carnegie-Mellon, motivada unicamente pela cor de sua pele. Resiliente, ela continuou sua jornada educacional na Dunbar High School em Washington, onde teve o privilégio de estudar com a influente Lois Mailou Jones. Na sequência, na Universidade de Iowa, estudou com o pintor Grant Wood, reconhecido por suas telas retratando a paisagem e os habitantes rurais dos Estados Unidos.

Em 1946, um novo capítulo começou para Catlett quando foi agraciada com uma bolsa da Julius Rosenwald Fund. Esse suporte impulsionou o início de uma série que se inspirou nas mulheres trabalhadoras da Carver School, ao mesmo tempo em que abriu as portas para uma experiência de vida no México. Ali, ela decidiu fixar residência, mergulhando nas cores e nas culturas que definiriam uma parte significativa de sua produção artística. Atuou no Taller de Gráfica Popular de 1946 a 1966, na Cidade do México, junto a outros artistas como Charles White, John Woodrow Wilson, Leopoldo Méndez e Margaret Taylor Goss Burroughs, que também têm obras na exposição.

Nessa nova fase de sua vida, suas convicções em prol dos direitos civis e do empoderamento da comunidade negra permaneceram profundamente arraigadas. Em 1962 foi declarada “persona non grata” nos EUA , isso devido à influência do macarthismo. Ela obteve um visto especial para retornar ao seu país natal na ocasião de uma retrospectiva de seu trabalho no Studio Museum do Harlem, quando já era conhecida pela alcunha de “mãe do Movimento de Arte Negra”.  Catlett só teve sua cidadania estadunidense restabelecida em 2002.

De um conjunto de gravuras de Catlett expostas nesta 35ª Bienal destacamos duas delas: My Reward Has Been Bars Between Me And The Rest Of the Land [Minha recomenpensa tem sido barras entre mim e o resto da terra] e Negro es Bello II.

A primeira, uma linogravura de 1946, mede 11 centímetros de altura por 15 centímetros de largura. A obra em preto e branco tem traços bem marcados e mostra uma mulher negra atrás de uma cerca de arames farpados. Ela é retratada do peito para cima, com uma expressão severa, o nariz proeminente, os lábios grossos e os olhos bastante expressivos. Seus cabelos são curtos e pretos e ela usa uma blusa escura de gola clara. 

A litografia de 1969, Negro es Bello II, tem 45 centímetros de altura e 41 centímetros de largura. Nela estão dois rostos negros com traços angulosos. O de cima tem uma expressão séria e destemida, e é mostrado levemente de perfil. O de baixo tem uma expressão melancólica, com o olhar para baixo, demonstrando certa tristeza, e é mostrado de frente. Sobre os dois rostos estão cerca de 60 selos redondos e amarelos. Neles há a imagem de uma pantera e está escrito “black is beautiful”. Este selo se refere ao movimento criado em 1960 pelos Panteras Negras com o intuito de exaltar a beleza das pessoas negras.