35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
Entrada gratuita
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Faixa 20

Daniel Lie

Chegamos ao final da nossa visita à 35ª Bienal com a obra Outres, de Daniel Lie, que é artista não binárie de origem indonésia e pernambucana. Lie nasceu em São Paulo e atualmente vive um processo nômade. Apesar de adotar a chamada linguagem neutra no título da instalação, em oposição à binariedade masculino/feminino dos sistemas linguísticos vigentes, não é esta a centralidade de significações que emanam da sua obra. O que Lie coloca em cheque são outros simplismos binários que categorizam o mundo à nossa volta, principalmente aqueles que não conseguimos ver e que suas obras vivas colocam em evidência diante de nossos sentidos. 

Como diz Thiago de Paula Souza em texto para o catálogo da mostra: “Lie ampliou suas noções de temporalidade e tem se empenhado em encontrar formas de colaboração que quebrem a noção hierárquica que posiciona a espécie humana no topo da escala evolutiva. Desde então, elu desenvolve ‘instalações-entidades’: grandes esculturas de materiais orgânicos, resultado do processo de degradação/transformação dos elementos que lhe dão forma.”

A instalação criada por Daniel Lie está entrelaçada nas colunas do edifício da Bienal. Ela é composta por tecidos brancos tingidos com cúrcuma. Esses tecidos se envolvem em seis colunas do edifício, três de cada lado, formando uma área retangular.  Entre os tecidos estão estruturas terrosas marrons, que partem do alto de cada uma das colunas e descem ao chão, no centro deste quadrilátero. Junto dessas estruturas há volumosos arranjos com folhas, flores amarelas e brancas e vasos de terracota suspensos por cordas presas no teto em diferentes alturas e disposições.

A instalação opera com materiais inerentemente efêmeros e transitórios, como matéria em decomposição, plantas em crescimento e outros processos orgânicos operados por “outres-além-de-humanes”, como bactérias, fungos, plantas, animais, minerais, espíritos e ancestrais

A depender do momento em que você visite a exposição, a obra de Lie pode ter um odor diferente. Esses materiais evoluirão e se transmutarão ao longo da mostra à medida que apodrecerem, brotarem e mudarem de forma e tonalidade de maneiras imprevisíveis. Ao ser exposta à luz solar, a cúrcuma perde sua tonalidade, de forma que, com a passagem do tempo e recebimento da luz solar que vem das grandes janelas do pavilhão, o pigmento pode esvanecer completamente dos tecidos.