35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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35ª Bienal de
São Paulo
6 set a 10 dez
2023
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Faixa 19

Castiel Vitorino Brasileiro

Quase no final de nosso percurso pela Bienal, nos deparamos com a instalação de Castiel Vitorino Brasileiro, uma artista que constrói sua obra, como ela própria afirma, “não a partir de identidades modernas, mas a partir de sua própria condição híbrida.”

A partir desse hibridismo, a artista recusa os rótulos e as categorizações que tentam circunscrever sua identidade. Mulher trans negra, ela encara sua obra como um aviso de que “podemos viver outra história que não essa racial e de gênero”. 

A instalação de Castiel Vitorino Brasileiro construída para a 35ª Bienal chama-se Montando a história da vida. A respeito dessa obra, a artista nos conta que “inserir as almas nos estudos modernos sobre a vida terráquea é tão perigoso quanto transformar a biologia numa disciplina espiritual. Em ambos os casos, nos deparamos com a matriz geradora de vida: a incapacidade de celebrar a transformação da matéria e ignorar a memória do que decidiu-se nomear de objeto”.

Trata-se de uma imensa instalação. No chão coberto por uma terra marrom escura, está um barco azul com o casco virado para cima e parcialmente enterrado no chão. Sobre o casco do barco há dezenas de copos e taças. Logo atrás, 12 compridos troncos de eucalipto, empilhados ordenadamente, formam uma base triangular. Depois dos troncos, uma coleção de 36 alguidares, aqueles típicos recipientes de barro, de diferentes tamanhos e formatos, cheios de carvão. Eles estão organizados de forma equidistante em seis linhas e seis colunas. Ao fundo, as ruínas do que Castiel chama de museu. Este intrigante museu é feito de tijolos de barro, vermelhos. Não há teto, somente suas paredes, que remetem a ruínas. Em uma delas lê-se a inscrição: “Museu dos objetos com alma roubados pela polícia brasileira”. As paredes deste museu abrigam cinco pinturas realizadas pela artista. A instalação, vista de cima, se mostra retangular, tendo da direita para esquerda, o barco, os troncos, os alguidares e as ruínas.

Segundo a artista, “não existe objeto, quando consideramos que em tudo há vida. No barco, nas árvores de eucalipto responsável por criminosas monoculturas, nas terras escuras e avermelhadas constituídas por nutrientes gerados por milhares de anos. Nas pinturas que declamam pensamentos e emoções sobre nossas origens. Nos alimentos que saciam a fome de anatomias que desconhecem a cisão entre arte, ciência e espírito. Ori. Numa ruína dum museu que parece ser fictício, mas não é.”

Errata: A obra de Castiel Vitorino Brasileiro teve seu nome alterado para Montando a história da vida.