35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
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Faixa 6

Aline Motta

“Estou grávida da minha mãe. Chegou a minha vez de te carregar na barriga.” 

Essa é a primeira frase do filme A água é uma máquina do tempo, de Aline Motta. E não é só o filme que se apresenta para nós, há também um grande holograma da mãe de Aline. Em uma imagem em preto e branco, a mãe está sentada em um banco. Ela é uma mulher negra, com cerca de 25 anos.  Está com as mãos apoiadas sobre as coxas e nos olha com ternura. Seus olhos piscam e seu tórax se movimenta levemente enquanto respira.

Aline Motta nasceu em Niterói, no Rio de Janeiro, em 1974, e mora em São Paulo. Combina diferentes técnicas e práticas artísticas em seu trabalho, como fotografia, vídeo, instalação, performance e colagem. De modo crítico, suas obras reconfiguram memórias, em especial as afro-atlânticas, e constroem novas narrativas que invocam uma ideia não linear do tempo.

Em uma de suas provocações, a artista nos questiona: “Se quebro com o silêncio, que identidades se tornam possíveis? O que pode vir à tona quando estou à procura de mim mesma? Entre os sussurros dos que vieram antes de mim, os espaços que foram impedidos de ocupar, as narrativas que foram borradas, o que resta como possibilidade de expressão e linguagem?”

Em A água é uma máquina do tempo, Aline Motta compõe um fluido mosaico a partir de registros históricos e tece uma intrincada rede de diferentes planos temporais. Nesse percurso, ela passa pela tristeza da perda de sua mãe até chegar ao Rio de Janeiro no final do século dezenove. Passa por fragmentos documentais que meticulosamente ressuscitam as vivências de Ambrosina e Michaela, suas antepassadas. 

Unindo de forma ímpar criatividade e investigação, Aline Motta revela as diversas maneiras pelas quais a herança colonial provoca borrões em nossa narrativa histórica. Sobre o texto que deu origem ao filme, Ricardo Aleixo diz o seguinte: “Na busca por dar forma a essa tentativa de capturar o talvez inexprimível – os espaços vazios, as rachaduras, os vincos, os elos invisíveis, os recantos escondidos da história –, Aline nos presenteia com uma obra que, em suas próprias expressões, resulta de um processo criativo tão apaixonado e desgastante que poderia ser facilmente categorizado como uma espécie de domínio.”  

No filme colorido de 31 minutos, Aline evoca imagens atuais e históricas da Baía de Guanabara. Transita como um fantasma pelo centro histórico do Rio de Janeiro, passa por igrejas históricas da cidade, chega ao cemitério São João Batista e depois aos arcos da Lapa. O passado e o presente se encontram em cartas e bilhetes, em sussurros de línguas ancestrais, entre os caminhos que fazem as águas.