35th Bienal de São Paulo
6 Set to 10 Dec 2023
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São Paulo
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Uma onça pintada convida crianças pequenas a visitarem a 35ª Bienal de São Paulo

Como corpos em movimento são capazes de coreografar o possível dentro do impossível? Como imaginar o possível? A partir dessas provocações lançadas pelo coletivo curatorial, fomos desafiadas, enquanto equipe de mediação da 35ª Bienal, a pensar formas e percursos de diálogos – entre público e obras – especialmente quando se trata da mediação para crianças na primeira infância. 

Nossa coreografia se inicia com as crianças e familiares sentados em roda onde uma onça pintada, produzida em madeira pela comunidade indígena Terena é apresentada como objeto propositor que nos conduzirá pela exposição.

Ligamos a história de produção do objeto à materialidade, à transformação dos materiais presentes nas obras relacionando com o repertório cotidiano, a imaginação e capacidade inventiva das crianças. Assim a onça-pintada nos guiou até a obra de Kidlat Tahimik, onde exploramos além da materialidade, os seres presentes ali e procuramos animais que poderiam ser amigos da onça.

Seguindo seus rastros, fomos levados à obra Tatá, um painel de líber (entrecasca da árvore) onde encontramos diversos amigos da onça presentes na forma de desenhos com plumagens, produzidos por Denilson Baniwa e Aparecida Baniwa, encontro que possibilitou às crianças criarem pequenas narrativas.

Vista da obra Tatá (2023) de Denilson Baniwa em colaboração com Aparecida Baniwa. Foto: © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo

Chegamos na obra de Torkwase Dyson com as perguntas: como nosso corpo pode atravessar essa obra? Quais movimentos podem ser criados por nossos corpos para passar por ela? Como ele se sente? O que conseguimos enxergar através dela? 

Percorrendo a trilha proposta pela Onça Pintada, fomos conduzidos a obra Habitar el color [Habitar a cor], de Carlos Bunga, onde o artista espalha uma enorme mistura de tinta e cola, criando uma nova camada de chão que se transforma com o passar do tempo, através de rachaduras e marcos de temporalidade.

Vista da obra Habitar el color [Habitar a cor] (2018/2023) de Carlos Bunga. Foto: © Levi Fanan / Fundação Bienal de São Paulo


A onça convida a entrar naquele espaço, a ver a cor com os pés e sentir, na própria pele, a pele. Lá observamos do alto as árvores verdejantes que fazem parte do Parque Ibirapuera, os raios de sol que entram pelas grandes janelas de vidro do Pavilhão criando outras nuances para o rosa presente na obra. Com o corpo descalço experimentamos a obra, pontos lisos e firmes, outros com aparência de geleca, áspera e com grandes fendas. Seguimos no movimento com risos e euforia, até que descansamos. 

A Onça nos presenteia com a história A Onça e a Raposa,1 onde a sábia Kaluhã conta histórias em que a onça, símbolo de força e coragem, se vê desafiada por pequenos animais inexpressivos quando comparados com sua grandiosidade.

Imaginação, corpo em movimento, experiência lúdica em ação. As crianças escutam o convite da onça para entrar em sua casa. Como será o ambiente em que a onça vive? Quem será que habita esse espaço com ela? Por que a entrada é escura? Agô! Pedimos licença para entrar na mata sagrada.

Com a visão ampliada, como da onça pintada, lentamente adentramos a Floresta de infinitos2 com uma mistura de curiosidade e medo. Nessa magia somos levados por

entre os bambus com projeções de diferentes imagens. Nos deparamos com espelhos, seguimos o curso dos rios, avistamos pássaros, insetos, biomas extintos, que vão compondo essa mata sagrada.

A Onça pintada foi o objeto propositor de metáforas para a nossa imersão com as crianças, propondo experiências estéticas, estésicas que se inscrevem no corpo em movimento, corpo que toca, sente, brinca, aprende e se encanta.

 

    • Livro “Coisas de Onça”, de Daniel Munduruku, 2011.
    • Instalação de Tiganá Santana e Ayrson Heráclito para a 35ª Bienal, 2023.