35ª Bienal de São Paulo
6 Set to 10 Dec 2023
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35th Bienal de
São Paulo
6 Set to 10 Dec
2023
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Deborah Anzinger

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https://youtu.be/H6GwTtJI7uE

Deborah Anzinger nasceu em 1978, em Kingston, na Jamaica, onde é também fundadora e gestora do New Local Space (NLS), um centro de arte contemporânea que realiza exposições locais e internacionais, conduz um programa de residências artísticas e executa pesquisas na área. 

A artista trabalha com pintura, escultura e vídeo e, segundo Nicole Smythe-Johnson no catálogo desta Bienal, tem um trabalho essencialmente relacionado à estrutura da linguagem, tanto a linguagem verbal quanto a visual, convidando o espectador a pensar sobre as relações que a linguagem produz. As relações entre sujeito e objeto, o eu e o outro, masculino e feminino, natural e artificial; oposições que se complementam. 

Anzinger faz isso utilizando materiais e criando composições que remetem a essas relações da linguagem e à sua sintaxe. A sintaxe é a relação lógica que as palavras estabelecem entre si em uma frase. 

As pinturas de Anzinger se recusam a permanecer nas paredes, não se rendem à bidimensionalidade da tela. Elas insistem em se projetar, refletir, crescer e se retorcer. Sobre as telas estão plantas vivas crescendo a partir do isopor, cabelo crespo sintético que se espalha para o lado da tela e espelhos que transformam o observador em observado.

Aqui estão expostas 4 telas, que não estão esticadas em um chassi, e quatro esculturas. As telas têm grandes dimensões, com quase dois metros de altura por um metro e meio de largura, e se opõem às esculturas, que são menores. A menor delas tem 30 centímetros.

As pinturas de Anzinger são abstratas, na medida em que elas não pretendem representar uma paisagem, um objeto ou alguma coisa, mas elas estão repletas de insinuações simbólicas. Especificamente neste conjunto de obras, o foco de Anzinger está voltado para o trabalho reprodutivo: sua sensualidade, sua fecundidade, mas também sua violência. A artista rompe a paleta comumente associada ao Caribe – azuis celestes, azul-esverdeado do mar, verdes dos gramados – com traços desenhados em forma de seios, símbolo máximo de nutrição e sexualidade. Há também folhas com formato de mão, lembrando-nos que a natureza tem a própria subjetividade − um agente que toma e também fornece, assim como fazem anualmente os furacões nessa região.

A obra Inóspito foi feita em 2018, com tinta acrílica, espelho e cabelo sintético sobre tela. Nela, um espesso e irregular traço negro forma um círculo vazado que ocupa a parte superior da tela e se inscreve sobre porções irregulares de branco, rosa e verde, quase como manchas. Em alguns pontos dessas manchas, a tinta está escorrida. Ainda dentro desse círculo, há um desenho em cinza que lembra um olho. Cortando verticalmente a tela, bem próximo da borda direita está o escuro cabelo crespo. Na parte inferior da tela, as manchas de cores são mais claras e vão do azul-claro ao branco e, mais à direita, emergindo de trás dessas camadas de cores, irrompe um seio escuro. 

O cabelo crespo sintético da obra constitui uma referência inconfundível à negritude, assim como os desenhos de linhas pretas que perturbam a paisagem abstrata, aparentemente em processo de vir a existir. Como mulher negra, nascida e criada no Caribe, Anzinger está atenta às formas como a negritude é frequentemente excluída ou circunscrita à subserviência em representações da região. 

O trabalho da artista está sempre forçando os opostos a se unirem, desestabilizando nosso pensamento binário, exigindo o reconhecimento de uma terceira via escorregadia, lúdica e sedutora.