35ª Bienal de São Paulo
6 set a 10 dez 2023
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São Paulo
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2023
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Nikau Hindin

As composições de Nikau Hindin são feitas em um tipo de papel chamado aute. Trata-se de um tecido obtido a partir do processamento da casca da amoreira, prática típica Maori, de sua terra natal, Aotearoa – como os nativos chamam o país que chamamos de Nova Zelândia. 

Ela é uma artista multidisciplinar que revive esta forma de arte Maori. O processo do material produz um tecido macio, grosso e levemente texturizado. A artista recupera essa prática tradicional, desaparecida há mais de um século. 

A revitalização dessas práticas se desdobra em ações coletivas, de modo que todo o sistema de conhecimento e a maneira subjetiva com que esses povos entendiam o mundo possam renascer e se restabelecer atualmente, como um trabalho de reconexão dos que estão aqui com seus ancestrais. 

Da criação e do uso de ferramentas típicas para produzir incisões na casca da amoreira e abri-la, até os utensílios para bater e abrir a trama dessa pele de árvore, embebida em água, tornando a secá-la para depois banhá-la outra vez, a matéria-prima desse processo é o tempo, e é nele e por ele que se dá a transformação mágica da qualidade material da casca em tecido. 

Aqui há 15 obras da artista, todas feitas com aute, um tecido fibroso e rugoso em tom ocre. Treze delas formam uma série. O nome de todas elas começa com Lua Nova e ela enumera 13 corpos celestes. Vários deles estão relacionados com as constelações zodiacais, como Sheratan, que é uma estrela da constelação de Áries, e Alniyat, da constelação de Escorpião. 

As obras têm em média um metro e vinte de comprimento por 40 centímetros de largura e estão dispostas verticalmente, uma ao lado da outra.  

Nelas há uma faixa preta grossa à direita e à esquerda, formando uma borda. Na parte interior das faixas, há delicadas linhas verticais que cruzam todo o tecido. Em diferentes alturas destas linhas, há setas triangulares vermelhas e pretas, que apontam ora para cima, ora para baixo. Essas setas formam um sistema gráfico elaborado com pigmentos à base de terra e fazem referência aos mapas estelares, método dos antigos Maori para observar os deslocamentos das estrelas no céu, como forma de orientação no espaço e no tempo, para navegar e viver. Na parte inferior das obras dessa série estão vários triângulos pretos com um triângulo sem cor e menor dentro dos pretos, e apontando na direção oposta, formando um padrão. 

Sua obra representa também uma categoria ligada à sua ancestralidade: a contabilidade do tempo em termos não-gregorianos, que não é contado a partir do nascimento de uma figura, mas dos tempos cíclicos próximos da humanidade: a oscilação de estrelas tomando o horizonte como referência.

Ao lado dessa série há outra obra que se chama Pequena Árvore. Ela também é uma faixa de tecido aute, com dimensões parecidas com as obras da série descrita anteriormente, mas sem nenhum desenho sobre ele. E a maior obra se chama Grande árvore. Ela tem cinco metros de comprimento por um metro e vinte de largura. Está presa no teto e pende para o chão, onde sua borda é segurada por sete pedras de formato arredondado. Essa obra é formada por cinco faixas de tecido costuradas com barbante. 

As obras de Nikau Hindin abrangem um sistema de valores e nos convocam a realizar uma genealogia dos processos, uma genealogia da memória e o exercício do respeito aos ciclos e padrões da natureza, no balanço entre água e tempo.