Denilson Baniwa
Natural de Barcelos, no estado do Amazonas, Denilson Baniwa é um artista e ativista pelos direitos dos povos indígenas. Do povo Baniwa, atualmente reside e desempenha suas atividades em Niterói, no estado do Rio de Janeiro. Nos últimos anos, vem investigando formas de introdução de temporalidades indígenas em instituições artísticas não indígenas. Ele é um dos mais destacados artistas de sua geração, além de curador e articulador de cultura digital, contribuindo para a construção de uma imagética indígena em diversos meios. Seu trabalho já foi exposto em prestigiados locais e recebeu diversas premiações.
Como diz Renato Menezes no catálogo desta Bienal, “a organização linear do tempo tal como concebida pela Europa moderna, movida pelas noções de progresso e de não retorno, é incompatível com as concepções do tempo entre as culturas ameríndias. Determinada pela interação entre o corpo e a natureza, organizada através da observação empírica das transformações do meio, a experiência do tempo indígena se assenta, em geral, em fundamentos míticos, que se reinscrevem na vida cotidiana através dos ritos. Entre esses ritos está o da transmissão do conhecimento e o da partilha dos afetos, que, no mundo ocidental, chamamos educação. É baseado no entendimento da educação como um processo não linear, processual e coletivo, que Denilson Baniwa vem, nos últimos anos, investigando formas de introdução de temporalidades indígenas em instituições artísticas não indígenas”.
Esta itinerância conta com três obras de Denilson Baniwa.
A primeira delas, ainda na parte externa, chama-se Kaá, de 2023. Na rotatória em frente ao Museu Nacional, encontra-se uma plantação de milho crioulo que cresce ao longo da exposição. Esta obra reflete sobre o tempo – do crescimento, da colheita, e da alimentação. Ela lida com a imprevisibilidade do clima e com a resistência das sementes em florescerem num ambiente urbano.
Junto dela, há outra obra de Baniwa chamada Itá, de 2023. É uma grande rocha redonda, com inscrições em baixo relevo feitas pelo artista. Ela tem aproximadamente 100 centímetros por 100 centímetros por 120 centímetros. As inscrições remetem a animais e seres míticos da cultura Baniwa.
Dentro do espaço expositivo está Tatá, de 2023. É um painel de tururi, que é uma fibra vegetal natural, com pinturas e técnicas de plumagem Baniwa sobre ele. Tem dois metros e oitenta e seis centímetros de altura por três metros e setenta e seis de largura.
Sobre a fibra são retratados uma série de animais, plantas e pessoas em diferentes situações. Destacam-se diferentes espécies de pássaros, como tucanos e araras, todos muito coloridos. E algumas árvores e flores, como um abacaxi ou uma vitória régia. Há também uma serpente em preto e branco e quatro elegantes cisnes brancos com o bico vermelho. As pinturas fazem referência ao modo de vida Baniwa, bem como ao papel da colonização cristã no Alto Rio Negro. Chama atenção, por exemplo, o desenho de duas crianças ajoelhadas e com as palmas das mãos juntas, diante de três plumárias Baniwa, ou um homem com batina, possivelmente um padre, conversando com uma criança. Um anjo com asas e cabelo loiro também aparece numa das árvores, próximo dos tucanos. Entremeado às pinturas há textos escritos na língua Baniwa.
Como diz Menezes, “Denilson Baniwa propõe, em sua obra, uma reelaboração da ideia de arquivo como instrumento pedagógico de reflexão e de fábrica da história. Desde seus trabalhos iniciais, de intervenção sobre gravuras produzidas no contexto da colonização das Américas, até os trabalhos mais recentes, de caráter instalativo e participativo, Baniwa realiza intromissões no arquivo com o objetivo de tensionar e fragilizar o tempo acelerado da conquista e da colonização e fazer emergir o tempo da reflexão, da espera e da escuta”.